Zema sugere que governo Lula fez vista grossa e torceu por pior em invasão no DF

Governador de Minas Gerais enfatizou suposição sem provas de que atual gestão federal buscou que o "pior acontecesse" para posteriormente "se fazer de vítima"; ministro da Secom critica uso de 'teoria da conspiração'
O governador de MG, Romeu Zema (Novo).

Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), sugeriu nesta segunda-feira, sem apresentar provas, que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez “vista grossa” para o risco de depredação de prédios públicos, em Brasília, com o objetivo de que “o pior acontecesse e ele se fizesse posteriormente de vítima”.

Zema, que chegou a se reunir com Lula e outros governadores após invasão ao planalto, admitiu se tratar de uma “mera suposição” e defendeu uma investigação. Como argumento, o governador mineiro citou a atuação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foi, na sua avaliação, “previamente comunicado e não se mobilizou”.

Me parece que houve um erro de uma direita radical, que, lembrando, é uma minoria. E houve um erro também, talvez até proposital, do governo federal, que fez vista grossa para que o pior acontecesse e ele se fizessem posteriormente de vítima. É uma mera suposição. Mas as investigações é que vão apontar se foi isso mesmo que aconteceu ou não, porque o que se demostrou naquele domingo foi uma lerdeza gigantesca de quem está ali para poder defender as instituições — afirmou Zema em entrevista à Rádio Gaúcha.

A declaração de Zema gerou reação do governo Lula. Pelas redes sociais, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), afirmou que o governador lança mão de uma “teoria da conspiração”. “Não contribui o governador de um estado importante como MG fazer insinuações sem base, tentando culpar a vítima, com teoria da conspiração que levou muitos golpistas a ventilar fake news sobre “infiltrados” e coisas desse tipo. Queremos diálogo sério pela reconstrução do Brasil”, postou.

O nome do governador lidera o ranking de assuntos mais comentados do Twitter no Brasil na tarde desta segunda-feira, puxado principalmente por críticas. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), que é de Minas Gerais, também rebateu a fala de Zema, que classificou como “infeliz e irresponsável”. Ele afirmou que a declaração deve ser repudiada. “Essa postura em nada colabora para apuração dos fatos criminosos nem para a pacificação que se espera do País. Ao contrário, inventa teorias absurdas. As ações criminosas de extremistas em atos antidemocráticos são inadmissíveis e deverão ser punidas com o rigor da lei”, escreveu.

O GSI é alvo de desconfiança do entorno de Lula. Dos 80 integrantes de cargos de confiança que compõem o órgão, apenas sete foram exonerados desde a posse do petista — menos de 10% do total. A avaliação de ministros do governo é que os militares responsáveis por zelar pela sede do Poder Executivo foram ineficientes durante os atos terroristas sem precedentes na história do país.

Críticas a Moraes

Na entrevista, Zema também criticou a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e citou como exemplos o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o recente bloqueio de contas de políticos e influenciadores nas redes sociais, no âmbito das investigações sobre os ato golpista. O governador declarou que o afastamento de Ibaneis “foi prematuro, desnecessário e injusto”. Na decisão, tomada no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos, Moraes afirmou que Ibaneis teve uma “conduta dolosamente omissiva”.

“Eu julgo que, em várias ações que ele (Moraes) tem feito, realmente ele tem excedido. Uma delas, na minha opinião, é o afastamento do governador do Distrito Federal, que pode até ter tido algum erro, mas não é motivo para você simplesmente afastá-lo do cargo. Quem de nós que não tem erro? E se teve erro com certeza teve erro também do Gabinete de Segurança Institucional, que é do governo federal” — declarou Zema.

Ao ser questionado sobre o bloqueio do perfil do deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG), Zema saiu em defesa do parlamentar:

“O direito de se manifestar, de não concordar sempre é legítimo numa democracia. Estamos assistindo a uma arbitrariedade gigante na minha opinião. Uma coisa é desinformação, invasão, quebra-quebra. Os culpados precisam ser punidos. E outra coisa é você ter uma posição diferente.”

O governador citou a necessidade de uma separação entre quem participou dos atos golpistas em Brasília de manifestações “ordeiras” e que “não afetam o direito de ir e vir”:

“Confundir um cidadão de bem com um depredador é um erro gravíssimo. Que se prenda, que se puna, exemplarmente, aquelas pessoas que fizeram essa depredação, o vandalismo que condeno totalmente. Agora, você estender isso para aqueles que estão se manifestando de forma ordeira, de forma que não afeta o direito de ir e vir de ninguém é uma situação muito distinta. Estão confundindo alho com bugalhos.”

Zema também foi questionado sobre a reunião com Lula e outros governadores em Brasília após o ato. Ele argumentou que a defesa da democracia une o governo federal e os estados, apesar de ter discordâncias com o governo do petista.

“Essa reunião foi simbólica. Não foi para decidir nada. Não foi deliberativa. Teve o único e exclusivo objetivo de repudiar aquilo que aconteceu. Isso deixa claro que, no momento de defendermos a democracia, tanto governo federal quando governadores estamos unidos. A democracia é um grande patrimônio e, apesar da minha discordância com vários pontos desse atual governo federal, eu defendo a democracia. Estive lá para condenar esses atos, que são deploráveis, e não para apoiar o governo federal ou as medidas que o Supremo tem adotado” — enfatizou.

Fonte: O Globo

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