
O novo papa da Igreja Católica, Leão XIV, surpreendeu fiéis e especialistas em sua primeira aparição na sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano, nesta quinta-feira (8), ao oferecer três pistas claras sobre o tipo de liderança que pretende exercer. Eleito pelos cardeais no segundo dia do conclave, Leão XIV – nascido Robert Prevost – é o primeiro papa dos Estados Unidos, com dupla cidadania no Peru, onde atuou como missionário por décadas.
O Portal Imediato conversou com Dom Giovane Pereira de Melo, bispo da Diocese de Araguaína (TO), que acompanhou com atenção o anúncio e celebrou a escolha. “Realmente o Espírito Santo nos surpreende. A eleição do Papa Leão XIV mostra que não são apenas os homens que coordenam a Igreja, mas é o Espírito Santo quem toma a dianteira”, afirmou o bispo, nomeado em 2023, após a criação da diocese.
Para Dom Giovane, a escolha de Leão XIV segue a lógica de que os caminhos da Igreja são conduzidos pela fé. “Os candidatos mais comentados não foram eleitos. Foi escolhido esse agostiniano, de certa forma um desconhecido. Assim como Francisco, que se apresentou como alguém vindo do fim do mundo, Leão XIV também tem essa vivência nas periferias, já que trabalhou no Peru e conhece bem a realidade latino-americana”, comentou.
Três pistas sobre o novo papado
Desde sua primeira aparição, Leão XIV indicou quais devem ser as prioridades de seu pontificado. A primeira pista foi a escolha do nome: Leão, em referência ao último papa com esse nome, Leão XIII, conhecido por defender os direitos dos trabalhadores e a justiça social. “Ao escolher o nome Leão XIV, ele mostra que está comprometido com a doutrina social da Igreja”, explicou o padre jesuíta Thomas Reese, especialista em Vaticano.
A segunda pista veio por meio das palavras. Em italiano e espanhol – e não em inglês –, Leão falou de paz e unidade. “La pace sia con tutti voi!” (“A paz esteja convosco!”), saudou o novo pontífice, numa clara referência à necessidade de diálogo em um mundo marcado por conflitos. Ele ainda descreveu a paz como “desarmada e desarmante, humilde e perseverante”.
A terceira pista foi visual: ao contrário de Francisco, que rejeitou símbolos tradicionais no início de seu papado, Leão vestiu uma túnica vermelha tradicional sobre a batina branca, indicando respeito à tradição, mas também um novo estilo de liderança.
Proximidade com o povo e continuidade do legado de Francisco
Dom Giovane destacou que os primeiros discursos do novo papa remetem ao espírito de sinodalidade e proximidade com o povo, pilares do pontificado de Francisco. “Ele falou em construir pontes, caminhar juntos, de mãos dadas, sem medo. São elementos essenciais de uma Igreja que quer estar próxima das pessoas, que caminha junto com os mais vulneráveis”, pontuou.
Segundo o bispo de Araguaína, a eleição de Leão XIV traz esperança para a América Latina. “Pelo fato de ter vivido e servido no Peru, ele carrega uma sensibilidade profunda pelas periferias geográficas e existenciais da nossa região. Isso me dá a impressão de que o olhar latino-americano estará presente de forma muito ativa nesse novo pontificado.”
Com uma mensagem inicial marcada por paz, humildade e compromisso social, Leão XIV inaugura uma nova fase no Vaticano que, ao que tudo indica, dialoga com os desafios contemporâneos sem romper com os valores do passado.
Discurso do Papa Leão XIV
“Que a paz esteja convosco. Irmãos, irmãs caríssimos, esta é a primeira saudação do Cristo ressuscitado, o bom pastor, que deu a vida pelo rebanho de Deus. Também eu gostaria que esta saudação, de paz, entrasse no vosso coração, alcançasse vossas famílias, a todas as pessoas. Onde quer que estejam, a todos os povos, a toda a terra, a paz esteja convosco.
Esta é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada, uma paz desarmadora, humilde e perseverante, que provém de Deus. Deus que nos ama a todos, incondicionalmente. Ainda conservamos em nossos ouvidos aquela voz frágil, mas sempre corajosa do papa Francisco, que abençoava Roma.
O papa que abençoava Roma, dava a sua bênção ao mundo inteiro naquela manhã do dia de Páscoa. Permitam-me dar sequência àquela mesma bênção: Deus nos quer bem, Deus nos ama a todos. O mal não prevalecerá. Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos, mão na mão com Deus e entre nós, sigamos adiante. Somos discípulos de Cristo. Cristo nos precede. O mundo precisa da sua luz. A humanidade necessita de pontes para que sejam alcançadas por Deus e ao mundo. Ajudai-nos também vós, unam-se aos outros, a construir pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos todos para sermos um só povo, sempre, em paz. Obrigado, papa Francisco.
Gostaria de agradecer a todos os irmãos cardeais que me escolheram para ser sucessor de Pedro, e caminharei junto a vós, como Igreja unida, buscando sempre a paz, a justiça, buscando sempre trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo. Sem medo, para proclamar o Evangelho. Para sermos missionários.
Sou um filho de Santo Agostinho, agostiniano, que disse: “Convosco sois cristão, e para vós bispo”. Nesse sentido, podemos todos caminhar juntos rumo a essa pátria, à qual Deus nos preparou.
À Igreja de Roma, uma saudação especial. Devemos buscar juntos como ser igreja missionária, uma igreja que constrói pontes, que dialoga, sempre aberta a receber como esta praça de braços abertos, a todos, todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do diálogo, de amor.
E se me permitem também uma palavra: [em espanhol] a todos aqueles, de modo particular, à minha querida diocese de Chiclayo no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu bispo, compartilhou a sua fé e deu tanto a mim para seguir sendo igreja fiel de Jesus Cristo.
A todos vós irmãos e irmãs, de Roma, da Itália e do mundo inteiro, queremos ser uma igreja sinodal, uma igreja que caminha, que busca sempre a paz, que busca sempre a caridade e busca sempre estar próxima, especialmente daqueles que sofrem.
O dia da súplica à Nossa Senhora de Pompeia, nossa mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar próxima, ajudar-nos com a sua interseção e seu amor. Agora gostaria de rezar junto convosco, rezemos juntos por essa nova missão, por toda a Igreja, pela paz no mundo. Peçamos essa graça especial à Maria, nossa mãe.”
Em seguida, o pontífice fez uma oração junto aos fiéis presentes na praça, além de ter dado sua primeira bênção como papa – a Bênção Urbi et Orbi, do latim, “à cidade [de Roma] e ao mundo, a todo o universo”.
Por: Warley Costa | Portal Imediato.