Caso de jovem que morreu horas antes de sair da prisão completa seis meses e mãe diz que ainda busca respostas: ‘Não vou ficar bem nunca mais’

A mãe de Briner de César Bitencourt disse que até hoje busca por respostas. Briner foi inocentado da acusação de tráfico de drogas dois dias antes de morrer.
Foto: Divulgação

Era segunda-feira, 10 de outubro de 2022, quando a família de Briner de César Bitencourt desabou ao saber da morte repentina dele. O jovem, de 22 anos, estava preso em Palmas, passou mal e não resistiu, dois dias depois de ser inocentado do crime de tráfico de drogas. O alvará de soltura só chegou ao presídio depois que ele já estava morto. Nesta segunda (10), quando completa seis meses do caso, a mãe Élida Pereira disse que ainda busca por respostas. A vida da cozinheira nunca mais foi a mesma.

Nos últimos meses, dona Élida tem enfrentando dias difíceis e noites em claro. Ela conta que não consegue dormir.

“Eu só durmo se eu tomar remédio. Eu acordo à noite, parece que para tudo, eu fico pensando e revivendo todas as situações que eu passei durante um ano e durante a vida inteira dele. Essa noite mesmo eu não dormi bem”.

A cozinheira disse que até hoje não sabe as circunstâncias que envolvem a morte de Briner. Por causa do luto, da dor e da saudade, ela já foi internada, mas busca continuar a vida.

“Já fui internada com crise de ansiedade. Psicologicamente a gente não fica bem, nunca mais. Eu não vou ficar bem nunca mais, mas a vida continua. Eu continuo trabalhando e fazendo as minhas coisas. Tem dia que eu estou melhor um pouco, outro dia é muito difícil porque vêm as lembranças e toda a dor de saber como foi a forma que meu filho morreu”.

A última carta que o jovem escreveu destinada à mãe nunca chegou até as mãos dela. Segundo ela, um amigo de Briner relatou que, quando o rapaz estava doente, escreveu uma carta, mas ela não teve acesso.

“Ele tinha feito uma última carta para mim, mas sumiu. Eles não me entregaram, nunca vou saber o que estava escrito nessa carta. Eu acho que ele ficou nessa esperança de ainda ter uma visita ou ainda ele iria passar para um amigo dele me entregar, mas essa carta nunca vai aparecer. Já devem ter dado um fim nela”, conta em lágrimas.

No fim do ano passado, a Secretaria de Cidadania e Justiça (Seciju), pasta responsável pelos presídios do Tocantins, prorrogou a sindicância administrativa que investiga a morte de Briner. O objetivo é apurar o que houve até a morte do jovem, inclusive a conduta dos servidores que trabalham na Unidade Penal de Palmas (UPP), onde Briner ficou preso por um ano, tempo que tentou provar inocência.

O novo documento foi publicado no Diário Oficial do Estado. Conforme a portaria, a prorrogação foi necessária para a “conclusão dos trabalhos, destinada a apurar os fatos narrados, condizentes as responsabilidades de servidores, quanto aos fatos descritos no processo”.

“Não há resposta. A única coisa foi que saiu um laudo dizendo que foi pneumonia bacteriana. Mas por enquanto não falaram nada, o que aconteceu, porque não levaram para o médico ou se levaram, o que os médicos falavam. Até hoje, não sei nada disso”, relata a mãe.

Briner foi preso em outubro de 2021 pela acusação de tráfico de drogas durante uma batida policial na casa onde alugava um quarto. Todo o tempo em que ficou preso, tentou provar sua inocência. Antes de ir para a prisão injustamente, ele trabalhava como entregador por aplicativo e fazia vídeos engraçados nas rede sociais sobre rua rotina como como motoboy.

Na prisão ele passou a sentir dores pelo corpo e segundo a Seciju, o quadro de saúde piorou na noite de domingo, dia 9 de outubro, para segunda-feira, dia 10. Ele foi levado para uma UPA da capital, mas não resistiu.

A sentença que determinou a inocência do jovem saiu na sexta-feira (7), mas ele estava na Unidade Penal de Palmas (UPP) porque ainda não tinha um alvará de soltura. O documento só saiu na segunda-feira, mas Briner já estava morto.

Depois da repercussão do caso, o Tribunal de Justiça Tocantins assumiu que houve falha no processo de Briner. “Houve falha. […] Houve um erro terrível e isso é incompatível com a mais elementar ideia de justiça. A expectativa é que o estado tocantinense, como um todo, assuma isso perante a família”, disse o juiz auxiliar do Tribunal de Justiça do Tocantins, Océlio Nobre da Silva.

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