Discutir o uso medicinal da cannabis ainda é um tema cercado de tabus. No entanto, hoje em dia, podemos aproveitar os diversos benefícios que os canabinoides extraídos da planta oferecem para a saúde e a qualidade de vida. Por isso, é fundamental desmistificar algumas questões e entender para que serve o canabidiol.
Nos últimos anos, a cannabis medicinal tem se destacado como uma alternativa promissora no tratamento de doenças crônicas no Brasil. Pacientes que enfrentam condições como dor persistente, epilepsia, fibromialgia e doenças autoimunes estão encontrando na planta uma nova esperança para melhorar a qualidade de vida.
O canabidiol, ou CBD, é um dos canabinoides da cannabis que tem ganhado destaque no uso medicinal. Ele pode ser uma opção complementar ou oferecer tratamentos eficazes para várias condições, incluindo doenças crônicas, degenerativas e alívio de dores.
A extração do canabidiol deve ser feita por meio de um processo seguro em laboratório. Por isso, a importação de CBD só é permitida na forma de óleo ou medicação. Também é possível receber treinamento para sua extração, mas sempre sob a supervisão dos órgãos responsáveis.
Atualmente, uma das principais técnicas de extração do canabidiol é a extração a frio. Nesse método, flores da cannabis são colocadas sobre uma cera específica para uso medicinal, em uma placa de vidro. Diariamente, essas flores são substituídas por novas. A cera remove os componentes do canabidiol, que, em seguida, passa por um filtro para eliminar impurezas, sendo destilada a baixa temperatura.
Como a cannabis pode ajudar?
A cannabis medicinal é obtida da planta Cannabis sativa e contém mais de 100 compostos chamados canabinoides. Os mais conhecidos são:
- THC (delta-9-tetrahidrocanabinol): responsável pelos efeitos psicoativos, mas também possui propriedades terapêuticas, como alívio da dor.
- CBD (canabidiol): não é psicoativo e é famoso por suas qualidades anti-inflamatórias e ansiolíticas.
Esses compostos interagem com o sistema endocanabinoide do corpo, que regula funções essenciais como dor, humor e sono, oferecendo alívio para diversas condições.
Como funciona o tratamento?
A cannabis pode ser administrada de várias maneiras: extratos, óleos, sprays e cápsulas. A dosagem e a proporção entre THC e CBD são personalizadas de acordo com a doença e as necessidades do paciente, sempre sob a supervisão de um médico.
É bom lembrar que, como qualquer medicamento, a cannabis pode ter efeitos colaterais. O THC pode causar tontura e sonolência, enquanto o CBD tende a ter um perfil de efeitos colaterais mais suave.
O que a ciência diz?
A pesquisa sobre a cannabis medicinal tem avançado, e muitos estudos mostram que seus canabinoides podem ser eficazes em várias situações, como:
- Dor Crônica: A cannabis pode ser uma alternativa para quem não responde bem a tratamentos tradicionais, com o THC ajudando a aliviar a dor.
- Epilepsia: O CBD tem se mostrado eficaz em formas raras de epilepsia, como a síndrome de Dravet.
- Náusea e Vômito da Quimioterapia: Estudos indicam que a cannabis pode ajudar a combater náuseas e vômitos em pacientes que não reagem a outros medicamentos.
- Esclerose Múltipla: Pacientes relatam alívio da espasticidade e melhora na qualidade de vida com tratamentos à base de cannabis, principalmente com THC.
- Transtornos de Ansiedade: Pesquisas iniciais sugerem que o CBD pode ajudar a reduzir a ansiedade, mas ainda há muito a ser estudado.
- Doenças Autoimunes: Os canabinoides possuem propriedades anti-inflamatórias que podem beneficiar condições como artrite reumatoide.
E a cannabis é para todos?
Nem todos os pacientes reagem da mesma forma ao tratamento com cannabis, por isso é essencial ter acompanhamento médico para ajustar doses e monitorar efeitos.
Com o aumento do acesso à cannabis medicinal e o avanço das pesquisas, cresce a esperança de que mais pacientes encontrem um caminho para uma vida com menos dor e mais bem-estar. A jornada pode ser desafiadora, mas com novas abordagens, há motivos para acreditar em um futuro mais confortável.
Explicação da especialista: *Dra. Ionata Smikadi, é médica Associada SBEC. Formada pela Universidade Estácio de Sá e pela Columbia University. CRM 123320-3