24 de novembro de 2024 - 13:47
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Irmã de estudante assassinado por foragido dos EUA relembra o crime: ‘Uma noite assustadora’

Valter Júnior foi morto em 2017 em uma lanchonete de Figueirópolis, e Danilo Sousa é acusado do crime. Autoridades dos EUA fazem buscas para localizar o condenado, que também matou a ex-companheira.
Foto: Chester County Government e Arquivo Pessoal

A fuga de Danilo Sousa Cavalcante, de 34 anos, condenado à prisão perpétua nos EUA por matar a ex-mulher a facadas, tem movimentado as autoridades norte-americanas. No Tocantins, onde o fugitivo também é acusado pela morte de Valter Júnior Moreira dos Reis, a família da vítima relembrou o dia do assassinato e as marcas deixadas pela perda.

O criminoso estava preso nos EUA pela morte de Débora Evangelista Brandão, de 34 anos, com quem ele tinha um relacionamento. O crime aconteceu na cidade de Phoenixville, em abril de 2021. Danilo esfaqueou a vítima na frente dos dois filhos e foi preso horas depois do crime. A fuga foi registrada no dia 31 de agosto deste ano.

No Tocantins, o homicídio foi registrado em 5 de novembro de 2017 na cidade de Figueirópolis, na região sul do estado. Valter foi assassinado a tiros em uma lanchonete da cidade.

Tiros em lanchonete

De acordo com a irmã da vítima, Daiane Moreira dos Reis, muitas pessoas estavam no local porque havia uma festa na cidade. Ela também falou que a perda abalou toda a família e que sente falta da presença do irmão.

“Foi uma noite assustadora. Ele esta no barzinho tranquilo e quando voltei já estava morto. Estava de boa, tomando refrigerante com os amigos dele. Ele me disse ‘vou tomar esse refrigerante aqui e vou ficar com a minha mãe’ e eu disse ‘então, tá bom’ (sic). Quando cheguei em casa só ouvi os tiros”, disse Daiane. Segundo ela, a casa da mãe fica bem perto do local onde o irmão foi assassinado.

Ela contou, ainda, que sentiu uma ansiedade quando ouviu os tiros, pegou a bicicleta e foi ao local, mas não acreditava que era Valter que havia sido baleado.

Foto: Reprodução

Motivo de disparos desconhecido

Sobre a personalidade da vítima, ela contou que o irmão era quieto, mas ao mesmo tempo alegre, e não tinha inimizade com ninguém.

“Todo mundo achava ele uma pessoa boa, amorosa. Ele era uma pessoa que gostava de fazer favor para as pessoas e não cobrava nada em troca”, afirmou

Valter trabalhava em uma loja de materiais de construção da cidade, segundo Daiane, todo mundo gostava dele no local.

A família não tem dúvidas que o autor dos disparos que mataram a vítima é Danilo, até porque muitas pessoas o viram saindo correndo da cena do crime.

Sobre a relação entre o irmão e o foragido, Daiane contou que eles conversavam pelas redes sociais, por onde a vítima teria recebido ameaças. No entanto, Valter não explicava o que estava acontecendo entre eles.

“Ele pensava que era amigo e que não ia fazer isso com ele. Mas meu irmão não falava nada. Ele era uma pessoa muito calada. Se ele tinha um problema ficava caladinho, só resolvia ele e a pessoa”, comentou.

Com relação ao processo judicial pela morte do irmão, Daiane lamentou que “não deu em nada” mesmo após os pedidos de justiça. “Parou, ficou por isso, ninguém falou nada. No dia que fui lá na delegacia correr atrás, falaram que está na mão da Justiça”.

Até hoje a família sofre com a falta de Valter. “Minha mãe ficou acabada. Depois que o filho dela morreu, nunca foi a mesma. Chora demais, ficou diferente. Acabou com a nossa família. Meu pai também nunca mais foi o mesmo. Ficou muito assim… aéreo. Ainda dói, né”, lamentou a irmã.

Investigação

Segundo a investigação sobre a morte em Figueirópolis, Valter estava no estabelecimento quando Danilo chegou. O dono da lanchonete onde aconteceu o crime, Valdo Alves Feitosa, afirmou que o foragido ainda falou com ele antes de ir até a vítima.

“Era uma noite chuvosa. Valter Júnior estava naquela mesa ali do canto. O Danilo chegou, falou comigo aqui no pit dog e foi pra lá. Até aí eu vi eles conversando e tudo. Quando eu tô fazendo um lanche aqui escutei uns estouros, tá – tá (sic), aí escutei gritando: ‘rapaz, o cara matou o amigo dele’. Eu vi o rapaz no chão, uma pessoa saindo aqui e um carro saiu em seguida”, relembrou a testemunha.

Foto: Reprodução/Ana Paula Rehbein

O assassinato, segundo a investigação, teria como motivo uma dívida que Valter teria com Danilo por causa do conserto de um veículo. O foragido fez seis disparos contra a vítima à queima-roupa.

Assim como afirmou a irmã, o dono da lanchonete elogiou o jeito de ser da vítima na comunidade de Figueirópolis.

“Valter Júnior era um menino bom, todo mundo gostava dele. Alegre, brincalhão, trabalhador. Até hoje não acredito que aconteceu isso aqui. Logo aqui, um lugar tão pequeno, tão amigo”, comentou Valdo.

Judiciário

Uma semana depois da morte de Valter em Figueirópolis, a Justiça acatou um pedido de prisão feito pelo Ministério Público Estadual (MPE), e Danilo se tornou foragido no Brasil. Ele responde por homicídio duplamente qualificado.

Em janeiro de 2018, ele conseguiu embarcar para os Estados Unidos pelo aeroporto de Brasília (DF). Isso porque o mandado de prisão do processo, que corre no Fórum de Gurupi, no sul do Tocantins, ainda não havia sido registrado no banco nacional de mandados. Ou seja, a informação sobre o crime ainda estava disponível somente para as autoridades tocantinenses.

Foto: TJ

Em nota o TJ informou que a prisão preventiva do acusado foi proferida no dia 13 de novembro de 2017 e na mesma data enviada à Polícia Civil para seu cumprimento, entretanto o acusado já tinha fugido do Tocantins. Sobre o registro do mandado no banco nacional de prisão, informou que a ferramenta, disponível desde 2011, só foi oficializada em 2018.

A última movimentação do processo é de 4 de novembro de 2022, em um despacho em que o juiz Jossanner Nery Nogueira Luna pede uma videoconferência com o réu, inclusive designando a participação de um tradutor para acompanhar a audiência.

Morte e condenação nos EUA

Danilo é natural do Maranhão. Ele mudou para o Tocantins com parentes e chegou trabalhar como lavrador. Débora Brandão, ex-companheira do foragido, é do mesmo estado. Ela vivia regularmente no estado norte-americano da Pensilvânia, onde eles se conheceram. Ele estava ilegal nos EUA.

Foto: Divulgação

Assassinato nos EUA

Danilo foi preso quando estava no estado da Virgínia, uma hora depois de matar Débora. A condenação aconteceu uma semana antes da fuga da prisão no Condado de Chester, em West Chester.

A empresária Silvia Brandão, irmã da Débora, que mora em São Luís (MA), falou da tristeza que o assassinato da irmã deixou na família.

“Nossa vida até hoje tem um vazio muito grande. Nós não estamos completos mais, e minha mãe… Uma mãe perder um filho não tem dor maior, né? Então nossa família está assim, tentando se reconstruir novamente, se reestruturar, mas incompletos. Ela faz muita falta, é uma dor imensa”, lamentou.

Os filhos de Débora, que na época do crime tinham quatro e sete anos de idade, hoje são criados pro Sara Brandão, outra irmã da vítima, que ainda mora com as crianças nos EUA.

Foto: Chester County Government/Via BBC

Tags relacionadas:

Assassinato , Destaques , fugitivo , Julgamento , tiros , Tocantins

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